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Falha na matrix: nossa existência é uma revolução

Escritor, cinéfilo, apreciador da arte e nerd por criação, Camila poderia passar horas falando sobre todos os formatos de arte possível e sua relação com cada um deles. 

Nome: Camila Cerdeira

Idade: 32 anos

Pronomes: Ele/dele, Elu/delu e Ela/dela

De onde é: Fortaleza - CE

Profissão: Escritor, fotógrafo e roteirista

Redes Sociais: @camilacerdeira

Se encaixar em um meio predominado por brancos, héteros e cis é uma luta constante de se mostrar digno de estar presente e de ser ouvido na sociedade, Camila entende bem isso.

Crescendo na década de 90 e no começo dos anos 2000, quando discussões sobre identidade de gênero eram praticamente inexistentes, Camila já sentia que não se encaixava como os outros, chegando a pensar que seu incômodo, a forma como se sentia, era apenas por ser bissexual. Mas essa não era a única explicação para a sua preferência por se vestir com roupas mais masculinas e usar o cabelo curto.

Em 2011, quando finalmente assumiu sua sexualidade, entrou para um grupo no Facebook de pessoas bissexuais, encontrando muitas pessoas trans e não-binárias que contavam sobre suas vivências com gêneros, assim o levando a despertar um interesse sobre essas questões e, aos poucos, procurar saber como tudo aquilo funcionava.

Naturalmente e no seu tempo, o seu processo de descobrimento como não-binário de gênero fluído se deu em 2019, quando assumiu para o mundo e amigos a sua verdadeira identidade e recebeu grande aceitação sem maiores questionamentos. Camila fala sobre o momento com um sorriso no rosto e gratidão. No fim, entender-se por completo nesses aspectos fez com que sua arte e seu trabalho ficassem mais repletos de si mesmo.

A escrita sempre foi uma maneira de se expressar, de mostrar quem ele é. O escritor se reflete em seus personagens que apresentam as mesmas características e experiências de vida que ele, levando a representatividade para aqueles que precisam, algo que, infelizmente, não teve em seu próprio desenvolvimento. Ser capaz de realizar esse feito agora significa muito para ele.

Sendo um comunicador e multi-artista, metido até com malabares, Camila percorreu vários caminhos nos quais teve espaço para expor sua voz e falar de tudo aquilo que lhe envolve como pessoa, mostrando que todos são dignos de ter sua representatividade e o direito de protagonizar a própria história. 

Desde os 18 anos, ainda no comecinho da internet, já fazia conteúdo na web em blogs, majoritariamente resenhas de filmes, séries e livros, continuando a produzir esse tipo de conteúdo desde então. Hoje em dia, com seu canal no Youtube, Camila leva seus vídeos de resenha crítica também para um lado que está mais envolvido politicamente com as minorias sociais nas quais está inserido. É simplesmente natural estar sempre falando sobre negritude, feminismo e questões LGBT+, e como consequência, em seus livros não foi diferente.

Em sua mais recente obra “A noite cai”, Camila traz um conto de fantasia e romance sáfico protagonizado por jovens pretos e trans e com uma nova mitologia mágica inspirada nos Orixás da Umbanda, fugindo com maestria do conceito europeu de fantasia, retratando sua religião criativa e positivamente com a essência de um livro Jovem Adulto inovador e cativante.

Com suas metas grandiosas, Camila não pretende parar, já preparando 3 histórias novas para serem lançadas ainda este ano e a continuação para A noite cai. Ele quer ver seus livros em prateleiras de livrarias por todo mundo, títulos de best-seller, que seus enredos sejam adaptados para o teatro e até pela Netflix, tudo e muito mais que um autor pode desejar. Objetivos como estes são impostos pelo mesmo motivo pelo qual escreve: para provar que pessoas como ele podem chegar até onde chegou.

 

"Se eu não pensar que posso chegar nesse patamar, eu vou tá dizendo que o tipo de mídia que eu produzo é de alguma forma inferior ao que a gente tá vendo e eu acho que isso é errado. Eu sei que vai ser um caminho muito difícil e que talvez eu não alcance, mas eu tenho que querer chegar lá".

 

De maneira espontânea, suas pautas e histórias se mesclam, com o objetivo de trazer os holofotes para pessoas que normalmente são retratadas com miséria e mostrar que elas, assim como ele mesmo, são capazes de estar naqueles lugares e vivências de destaque.

A arte e a realidade caminham entrelaçadas, não há como, nos tempos atuais, deixar de usá-la como ferramenta de luta contra os padrões enraizados na sociedade. Usar da subjetividade artística para comunicar algo que precisa ser falado e trazer identificação é mais recorrente do que parece, tanto é que o pequeno Camila ficou encantade ao assistir “Matrix” pela primeira vez, em 1999, sem saber dizer ao certo o motivo de sua admiração. Depois de anos, veio a entender que a revolução que o longa-metragem causou em si foi justamente por se tratar de uma intrínseca metáfora para a transexualidade.

"Nós somos a falha na matrix que eles querem tanto apagar", Camila afirma, com uma verdade tão forte que chega a arrepiar. Como pessoa preta, periférica, umbandista, não-binária e bissexual, ele é o exemplo vivo e completo da resistência que há na nossa sociedade contemporânea. Elu é revolucionário por sua existência e sua arte é o porta-voz para aqueles que precisam ser ouvidos e vistos.

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